É estranho a forma como o assunto é abordado nesta trama. Claro que se trata de uma historia menos séria, com cunho humorístico e tudo, mas nem por isso se deve passar uma imagem tão caricata dos gays, como aquela. É sério, fico indignado ao ver tanta palhaçada e piadas de cunho homofóbico num atrativo que devia fornecer ao público informações para se ter uma imagem positiva de nós gays. Quem assiste a novela, vai acabar generalizando o que já é bem generalizado. Nem todos os gays se comportam daquela maneira tão afetada. Aliás, acho que nem mesmo o maior dos efeminados adota trejeitos de forma tão bizarra e caricata, aproximando-se de uma bicha louca... Qual é o gay que tem nojo de abraçar uma mulher por que vai encostar nos seios dela? Está certo, existem muitos que tem um comportamento mais "animadinho", o que não significa que se resuma a isto a condição de um homossexual. Surpreende muito, o fato de Walcyr Carrasco, que por mais que negue faz parte da classe, transmitir tal imagem em uma obra sua. O estiloso Cássio interpretado por Marco Pigossi em Caras & Bocas, do mesmo autor, levou ao público a mensagem de que gay também tem uma boa profissão, família, caráter e bons princípios, mesmo que de forma cômica...
Agora o Áureo me envergonha! Mesmo sendo interpretado pelo sublime André Gonçalves, que já fez um gay na televisão em 1995 como o Sandrinho de A Próxima Vítima e vários outros personagens antológicos, ele consegue ser a versão ambulante do esteriótipo de "viado" que lutamos tanto para não ter. E sua interpratação é tão boa, que a coisa realmente surte um efeito negativo. Tanto no colégio, como em casa, no supermercado, na farmácia e vários outros lugares que frequento, ouço comentários a respeito da "bichona da novela das sete", que é falsa, interesseira, envergonha os pais e etc. Isso me deixa muito mal, pois tenho a sensação de que se um dia eu me assumir, serei visto desse jeito.
André Gonçalves (Áureo)
Como já citei antes, em produções mais antigas do gênero telenovela, era comum ver a figura do homossexual afetado e trejeitado, que normalmente circulava por núcleos mais modestos e não eram retratados com profundidade.
Atualmente, a coisa mudou. Já não se vê mais tanta afetação, e a vida normal que alguns gays levam, foi abordada na televisão.
Na minha opinião, Morde e Assopra está longe de ser um novelão. Não exatamente pelo personagem Áureo, mas por uma série de outros fatores, como a história da novela, que não é muito original, a falta de um núcleo principal convincente e núcleos muito mal aproveitados, além da direção que não combina com o estilo do autor.
Atores tarimbados como
Elizabeth Savalla, André Gonçalves e Ary Fontoura, são jogados em um núcleo cômico super forçado, com personagens apelativos e uma tentativa frustrada de fazer o bordão "Áureo, fecha o armário!" decolar. Não há robô ou dinossauro que sustente a audiência desta novela!
Como disse um amigo meu certa vez: "- Tenho um peru e não quero me desfazer dele!", só você mesmo Seann... Mas concordo plenamente. Não é porque você é gay, que queira ser mulher ou se vestir e comportar como tal. E essa história de que o passivo é a "mulherzinha" na hora do sexo também é furada. Ir para a cama com outro homem e ficar por baixo, não vai fazer de fulano menos homem. Ele vai continuar fazendo xixi de pé, falando grosso e tendo pelos debaixo do braço. O que faz de alguém um homem de verdade, não é o fato de ser passivo ou gay, mas o de ter coragem para enfrentar a vida e as pessoas. Muitos héteros por aí, que falam de boca cheia de nós, provavelmente não têm a virilidade e força que temos.
Enfim, para quem já levou as telinhas um personagem tão determinante na aceitação dos gays como o Sandrinho de A próxima vítima, colocar roupas extravagantes, vociferar gírias e desmunhecar legal é um pior dos papéis e uma vergonha para a classe GLS.
O vídeo acima mostra uma das cenas mais marcantes da televisão brasileira. Sandrinho (Andrá Gonçalves) conta a sua mãe Ana (Suzana Vieira) sobre sua condição sexual.